Filmes

Músicas

Livros

Línguas

Retratar o Paulo Augusto, sempre resultará num esboço da pessoa única e de múltiplas e surpreendentes qualidades. Seu programa predileto era ir a livrarias, não importa se estivesse aqui no Rio ou viajando, e sempre saía com pelo menos dois livros.

Quando viajava, levava uma mala cheia de caixas vazias para trazer os livros que comprava, sem que eles amassassem. Durante sua vida, ele construiu uma biblioteca de livros dos mais diversos assuntos, desde os de matemática, teoria da computação, filosofia e outros ligados a seus interesses profissionais, até os de literatura, história, política, principalmente, a do final do século XIX, com relação à Primeira Guerra Mundial, aviação e tudo o que lhe despertasse o interesse.

Difícil dizer qual era seu(s) autor(res) preferido(s), mas, em literatura, podemos dizer que Saint-Exupéry com suas histórias do Correio do Sul, George Orwell com sua ficção distópica e relatos documentando sua experiência na Guerra Civil Espanhola, e o pacifismo saudosista de Stephan Zweig tinham um lugar assegurado no seu coração.

Só no nosso apartamento, foram inventariados 4800 livros, sem contar os livros do escritório de dois cômodos, com prateleiras em todas as paredes, e ainda os de seu gabinete na Coppe.

Pretendemos doar a maior parte dos livros para bibliotecas de estabelecimentos de ensino e bibliotecas públicas. Uma biblioteca virtual com artigos e livros científicos está sendo criada , e pretendemos deixá-la disponível em breve para consulta.

O interesse por línguas do Paulo Augusto vem de longe. Na sua infância e adolescência, ele estudou, autodidaticamente, Alemão, Inglês e Italiano, por influência, talvez, de seu avô Hugo, ouvindo discos de cursos de línguas. Estudar Alemão foi uma vontade que o seguiu por sua vida toda. Sempre autodidata, comunicava-se bem em viagens, de lazer ou de trabalho.

O interesse dele por línguas pode ser classificado quase como de um linguista, pois procurava as similaridades e diferenças entre os idiomas de mesma origem (anglo-germânicas, greco-latinas etc.) e, assim, ia assimilando a língua mais facilmente, segundo ele. Seu interesse linguístico não era superficial, ele gostava de se aprofundar na gramática para falar e escrever corretamente. Sua biblioteca tem prateleiras e prateleiras dedicadas ao estudo de idiomas.

No caso do Inglês, ele fez assinatura de revistas especializadas em técnicas de escrita científica, com o intuito de bem escrever artigos e se comunicar nas conferências. Francês foi um caso de amor tardio. Depois de ter estudado o idioma no Colégio Militar (nos antigos cursos ginasial e científico), ele não manifestou interesse pela língua por muito tempo. Achava uma língua muito prolixa, cheia de “pi, pi, pi”, como ele costumava dizer. Até que um dia, em 2011, já aposentado, eu o convidei para assistir a uma aula da minha professora Beth Barbosa, na Aliança Francesa, baseada em canções em Francês. Ele gostou tanto, que resolveu se matricular no curso na Aliança. Desde então, não parou de ter aulas de Francês e começou a escrever crônicas, muitas delas baseadas em letras de músicas francesas, sob o pseudônimo de Octave de Boeldieu (em homenagem a um personagem de seu filme preferido, A Grande Ilusão, de Jean Renoir). Clique para baixar Aventures d'un Francofou Tendo um perfil introspectivo e reservado, ele não costumava expressar seus sentimentos, no entanto, em francês, ele se liberou da autocensura e timidez deixando sua criatividade e imaginação vagar livremente pela fantasia e permitindo que seus sentimentos mais íntimos aflorassem. Por força do hábito, trabalhando com formalismos e fundamentos, seu aprendizado de línguas, também seguia um método cartesiano : sintaxe, semântica, gramática etc. Foi por isso que o Esperanto lhe despertou tanto interesse. Tudo o que lhe caia sob os olhos que dissesse respeito ao Esperanto lhe interessava logo. Outras línguas fizeram parte do seu o interesse. Galego e Catalão despertaram sua curiosidade, dentro do espírito de encontrar semelhanças com o Português e o Tupi-guarani para tomar conhecimento de nossa herança primeira. No jantar de uma conferência a que fomos em Santiago de Compostela, foi cantado o “Conjuro da Queimada”, uma performance que evocava as bruxas fazendo uma bebida típica da região. Paulo guardou bem guardado o folheto distribuído, como uma grata recordação. Clique para baixar Conxuro da queimada Realmente, ele era uma pessoa ímpar. Em tudo o que lhe interessava, mergulhava profundamente, sempre com sede de aumentar seu conhecimento.